segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

Um Oscar reciclado


Se não houve grandes filmes a serem premiados no Oscar pelo menos uma grande causa estava em cena no palco do Kodak Theatre. Sem dúvida a cerimônia deste ano levou para as primeiras páginas a preocupação mundial (e agora norte-americana) com os recursos naturais do planeta e os efeitos do aquecimento global. A preocupação também chegou lá, nos grandes poluidores da Terra. E como bem ensina a lição eles fizeram deste limão uma limonada. Se nunca houve uma figura pública de credibilidade mundial para levantar essa bandeira, agora este lugar já está ocupado. Esta figura acaba de ser “criada”. Al Gore foi introduzido em escala mundial nesse papel com toda a pompa e a circunstância que a glamurização de Hollywood é capaz de criar. Na falta de bons filmes vale uma boa causa.

No Oscar marcado pela reciclagem e pelas preocupações ambientais o grande destaque da premiação foi um cineasta “reciclado” como Martin Scorsese. A academia promoveu o resgate de sua trajetória e acabou premiando o cineasta mais por sua carreira do que por sua última obra. Talvez hoje ele seja o último dos grandes dinossauros da cinematografia norte-americana formada nos anos 60. Que ele merecia um Oscar não há quem duvide. Mas somente a safra mediana de filmes deste ano para justificar sua premiação. Em termos de Scorsese ele já teve anos bem melhores. Acabou ganhando a estatueta dourada com “Os Infiltrados” que está longe de ser seu melhor trabalho. Basta lembrar “Táxi Driver”, “O Touro Indomável” e “Os Bons Companheiros”.

A cerimônia do Oscar, que por muitos anos foi marcada pela obviedade e pela inexistência de surpresas nas premiações, nos últimos tempos vem mudando esse perfil. Não é verdade que os filmes com o maior número de indicações serão obrigatoriamente os campeões da noite. Quantidade já não é mais tão importante na academia. O que vale é a qualidade dos prêmios recebidos. Os campeões de indicações neste ano (“Babel” e “Dreamgirls”) por pouco não deixaram a cerimônia de mãos abanando. O primeiro recebeu um Oscar e o segundo apenas dois. E ficou de bom tamanho.

No mais, apenas mais dois destaques.
Destaque negativo: como são ruins as canções indicadas ao prêmio (e não é de hoje).
Destaque positivo: a justa, justíssima, homenagem com a concessão de um Oscar especial ao insuperável compositor italiano Ennio Morricone, autor de algumas das mais belas trilhas sonoras de todos os tempos.

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